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conheça o trabalhoDeslocamentos
Daniela Bousso
2000

 
  O termo "deslocamentos" não é exatamente novo: do latim (dislocare), tem percurso certo dentro da própria história da visualidade. A arte das cavernas, os templos, seus afrescos e mosaicos - que constituíram uma arte de inscrição e fixidez material -, deslocaram-se para a pintura de cavalete, que pressupunha maior liberdade tanto pela mudança de suporte quanto por sua possibilidade de feitura em locomoção. No final da modernidade, Duchamp deslocava a materialidade e a representação da pintura e da escultura para a conceitualidade do readymade, modificando a utilização da linguagem nas artes visuais. A partir dos anos 70, outro deslocamento ocorreria, introduzindo nossas vivências na "Era da Lógica Paradoxal da Imagem", com a introdução do vídeo, da holografia e da infografia na cena artística. A partir dos anos 90, o termo foi incorporado por curadores nos Estados Unidos e na Europa, tornando-se o eixo de importantes curadorias.

Aliado a uma idéia de resistência libertadora, o displacement ou a deslocation revela um desejo de re-alocação, re-orientação ou, ainda, a necessidade de estabelecer novas categorias ou re-mapear espaços não imaginados, em busca de conexões entre estrutura do sistema e estatuto da arte e o mundo ao nosso redor.

O fortalecimento da globalização e do capital, observado ao longo dos últimos trinta anos, gerou o interesse gradativo pela utilização de novas mídias; que os artistas passaram a incorporar em suas obras como forma de resistência à idéia de dissolução da arte: deslocalização é transferência de energia, trabalho nas fronteiras, nas bordas, re-configuração de limites.

Da discussão do Cubo Branco - que trabalha rumo ao desmonte do caráter estrutural de uma exposição - às polêmicas ao redor da imagem real x virtual, a idéia de deslocamento oscila entre o princípio de organização e desorganização, na tentativa de apreensão de um intervalo, entre localização e deslocalização. O resgate do sujeito através da manutenção do aqui/agora é o fenômeno que configura a idéia de resistência libertadora. O tempo é o suporte onde a arte pode ser tecida.

Três blocos de expressão constituem a mostra: Estranhamento, A Superfície e Imagem/Tempo. (...)

Imagem/Tempo

(...)
No terceiro bloco prevalece a relação imagem/tempo, bem como a diferença de atitude em relação aos suportes e precedimentos artísticos.

(...) as águas venezianas de Fábio Carvalho, ou ainda suas ruas e supermercados, tanto faz, é o tempo sobreposto em camadas que protagoniza as cenas; (...)

A trama conceitual de "Deslocamentos" constela um sistema de conexões intricadas. O transbordamento dos conteúdos mescla-se a questões referentes aos deslocamentos dos suportes; assim, seus blocos de expressão podem ser lidos de maneira entrelaçada, não são segmentos ou setores, mas sim vetores de indicação. O agrupamento das obras não é rígido, é índice de uma vertente da contemporaneidade cuja poética volta-se à dimensão socioantropológica: vida cotidiana, estranhamento, hibridação do suporte, modificação do plano de visão, urbanidade, tecnonatureza. Re-alocam, re-mapeiam. A periferia é o centro, a imagem é refém do tempo. Se os artistas solicitam que o olho acompanhe e descortine outros horizontes, não é para que se descubra o novo, mas, quero crer, para ampliar as funções do sentido e o locus da arte.

Publicado no catálogo da exposição Deslocamentos (Rumos Itaú Cultural Artes Visuais)
Fundação Joaquim Nabuco - Recife - PE - 2000
Centro Cultural Dragão do Mar de Arte e Cultura - Fortaleza - CE - 2001

 
 

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