Albarrada
aquarela de tinta acrílica sobre cópia xerográfica em papel

Albarrada
acrylic paint watercolor on paper with xerographic copy

2019/23  |  67,5 x 202,5 cm

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Em 2019, durante a W Residência Artística em Ribeirão Preto, num casarão cercado por um jardim tropical enorme e luxuriante, Fábio Carvalho realizou a obra Albarrada - azulejos de papel pintados à mão com desenhos de plantas tradicionais de jardins brasileiros, várias desenhadas a partir dos espécimes presentes no local, bem como composições com frutas a partir do exuberante papel de parede da copa da casa onde aconteceu a residência artística. As aquarelas de plantas e frutas foram combinadas com figuras militares.

Os azulejos de papel foram dispostos numa forma semelhante a um tipo característico de painel de azulejos português tradicional do século XVIII, a Albarrada, que dá nome à obra. Nestes painéis tradicionais sempre encontramos uma imagem central maior e dominante, geralmente um grande vaso de flores ladeado por anjos ou pássaros, cercada por figuras avulsas.

No trabalho do artista, a figura central é uma Aroeira, árvore bastante comum em Ribeirão Preto, que foi o estopim para este trabalho, tendo sido a primeira planta a ser desenhada, e no final, por conta da configuração desejada para o painel, a única árvore. Em meio às aquarelas botânicas paradisíacas, encontram-se os invasores militares. As figuras da flora foram pintadas em azul, e as imagens militares em azul ou rosa.

O uso da cor rosa para algumas das aquarelas com imagens militares é uma das novidades que apareceram durante o processo deste trabalho. Surge como crítica a uma tentativa de imposição hegemônica de gênero por parte do desastroso governo federal brasileiro empossado em 2019. Até então, todos os azulejos de papel eram pintados pelo artista apenas em azul ou em policromia.

Embora o trabalho de Fábio Carvalho sempre apresente o choque entre estereótipos de masculinidade / virilidade (neste caso, as figuras militares) e elementos ornamentais considerados por muitos como femininos (neste caso, as plantas, flores e frutas), esta foi a primeira vez que seu trabalho também tirou partido dos ambientes domésticos, tanto ao intervir sobre os próprios ambientes, como na criação de trabalhos com elementos oriundos destes locais.

A obra Albarrada foi responsável pela gênese de várias outras seguintes, nas mais variadas mídias, que o artista acabou por reunir sob o título geral Natureza Camuflada, que apesar da aparência de obras onde o "assunto" central seria plantas ornamentais, vão além ao renovar e ampliar a sua discussão de mais de 12 anos sobre estereótipos de gênero.

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